Consegui mudar o mundo

Hoje sinto e vejo tudo aquilo que há um ano atrás parecia impossível de alcançar. Foi (e ainda está a ser) um caminho que teve tanto de longo como de prazeroso. São realmente fantásticas as coisas que a paciência e a intuição nos permitem alcançar!

Pois bem, chega de introduções e vamos lá então recuar até ao ano de 2015.

Demasiado novo para assentar (não gosto desta palavra) e velho demais para grandes aventuranças – Era isto o que a sociedade me dizia relativamente aos meus 26 anos, apesar de não ser isso que eu sentia. O meu trajecto, até então, tinha sido o mais standard possível. Terminei o 12º ano, porquê? Porque é o que toda a gente faz. Tirei uma licenciatura, porquê? Porque é suposto. Fui trabalhar, porquê? Bem, acho que já sabes a resposta. Foi todo um encadear de “decisões” em que nunca parei para senti-las e verificar, até que ponto, poderiam servir o meu propósito de vida. Mal ou bem, acabei por seguir um caminho já (demasiado) trilhado.

Ansiar pelas 18h, pela sexta-feira e pela quinzena de férias em Agosto. Aguardar religiosamente pelo fim do mês. Despender imenso tempo com pessoas que não nos inspiram, só atrapalham. Após 5 anos de mercado de trabalho, cheguei à conclusão de que a vida não pode ser só isto. Tendo constatado tal evidência, não podia ficar de braços cruzados. Tinha o inimigo identificado, precisava agora de ir à guerra. Nesta batalha, ouvia-se do outro lado da trincheira: “Manel, a vida é mesmo assim”. Assim como? Isso está escrito onde? Nunca me souberam explicar. Desconfio que me estavam a mentir. Uns por preocupação, para me afastar de caminhos incertos. Outros apenas por falta de vontade de viver. Tudo bem, já passou.

Estava escuro e frio. A vontade era muita, mas as alternativas escasseavam. Porém, certo dia, tudo isso mudou. Num jantar com amigos, alguém soltou para a mesa o “Para Onde”. Explicaram-me que se tratava duma plataforma que fazia a ligação entre potenciais voluntários e associações de todo o mundo. De imediato, os meus olhos brilharam. Eureka! Senti eu cá dentro. Parecia que tinha descoberto a pólvora! É aquela sensação de estar num labirinto e de repente encontrar um GPS (e dos bons!). Nesse mesmo dia, fui para casa e comecei a deliciar-me com os inúmeros projectos por todo o mundo.

Ora bem, estava neste momento com o meu problema identificado e na posse duma potencial solução. O que faltava agora? Fazer acontecer! Colocar as ideias na prática é, sem dúvida, um enorme desafio. Principalmente no meu caso, que tencionava despedir-me para poder estar fora por um longo período de tempo. Foi neste momento que comecei a ser assaltado por questões, medos, receios e inseguranças. Enfim, tudo aquilo que pertencia à família desses brilhantes ilusionistas decidiu vir ter comigo. Tudo bem, optei por recebê-los com o mesmo entusiasmo com que estava disposto a avançar com tudo isto.

Então agora vou largar uma vida estável e um bom salário para ir fazer algo que nem sei se gosto? E se me arrependo? Quando voltar, se não conseguir arranjar trabalho, como vai ser? Estava prestes a dar em doido. Esta era uma luta de um homem só, ninguém me podia ajudar. Prestes a enlouquecer com tantas questões, desisti de procurar respostas. Aí percebi que a resignação não é para os fracos, mas sim para aqueles que estão dispostos a pensar com o coração. Acalmei-me e parei de resistir. Dei as rédeas à intuição e nela confiei cegamente.

Foi no último mês desse ano que tomei a primeira decisão (a sério) desta jornada: despedir-me. O facto de não ter nada definido não suplantou a minha necessidade de criar um vazio. Precisava libertar-me duma rotina que a única coisa que preenchia em mim era o meu tempo. Chegava de acrescentar anos à idade achando que estava a viver. Era emergente emergir e começar a fazer cócegas à vida.

Fora dos espaços viciados e longe de quem hipotecara os seus sonhos, era agora dono e senhor do meu tempo. Fazia aquilo que me apetecia, literalmente. O despertador deixou de tocar e as preocupações era eu quem as inventava. A magia da folha em branco, do vazio e do incerto! Estava apaixonado e leve, pronto para criar as bases que me levariam à melhor decisão de todas. A ideia do voluntariado internacional estava em banho-maria, mas não por muito mais tempo. Não sei por que razão, mas parecia que estava à espera de mais alguma confirmação. Até que certo dia, por entre uma daquelas passagens raramente produtivas pelo Facebook, os meus olhos embateram nas palavras do senhor Denis Waitley. Este escritor americano dizia(-me): “o maior risco de todos é não fazer nada”. Esta frase atropelou todas as minhas hesitações e fez-me vociferar um tremendo “ok, bora lá!”. Não pensei muito, felizmente. A mente já me tinha mentido por inúmeras vezes, por isso desta vez ficou de parte.

E foi assim que, no quinto mês de 2016, decido ir para Cabo Verde. Fui viver 3 meses para a vila do Tarrafal na ilha de Santiago para poder colaborar com uma organização local. A Delta Cultura e as suas crianças receberam-me de corações abertos. Que energia incrível! Graças a eles pude viver o Amor ao próximo, a mim mesmo, a tudo e a Todos. O voluntariado nunca me prometeu nada e, ainda assim, conseguiu tirar-me e oferecer-me imenso. Desviou-me dum caminho que já não era meu e que me preenchia de tudo um pouco, menos daquilo que importa. Deu-me a sentir novas formas de amar, sorrir e acreditar. Ensinou-me a abraçar com a alma e a pensar com o coração. Tinha, finalmente, fugido do que não importava para poder ir à luta. Aqui era possível batalhar por causas relevantes, propósitos intensos. Era isto que eu precisava sentir. Pois, no final de contas, tudo o resto é isso mesmo, resto. E o que resta de nós quando o tempo que nos restava serviu apenas para nós e nunca para os restantes? Nada.

Fui e nunca mais voltei.

Esse meu “Eu” que partiu para Cabo Verde por lá ficou, morto e enterrado. É assim mesmo, renascer implica morrer, por isso, para mim o suicídio teve tanto de bem-vindo como de inevitável. Regressei numa versão melhorada de mim mesmo, pelo menos quero acreditar que sim. E na bagagem, vim carregado de lições valiosíssimas.

Percebi que para ganhar, às vezes, é necessário desistir. Abdicar daquilo que já não nos serve retira-nos peso e facilita-nos o voo. Constatei também o quão crucial é respeitar a nossa intuição. Nós carregamos uma sabedoria tremenda! Dar-lhe o melhor uso é a nossa missão. Só depois disto, fui capaz de ver o mundo mudar a cada gesto meu. Descobri que todos somos zés-alguéns. Cada um de nós é capaz de se tornar alguém que melhora a vida do próximo.

Por fim, hoje sei que sou capaz de mudar o Mundo. Pelo menos o meu, eu consegui transformar. Portanto, se sentes, não hesites.