Todos temos talento

Todos nós admiramos alguém. Idolatramos um jogador de futebol pela sua habilidade com a bola. Aplaudimos um cantor quando a sua voz nos causa arrepios. Fascinamo-nos com um escritor quando junta as palavras que correspondem exatamente com aquilo que sentimos. Por vezes, quanto maior a admiração, mais pequeninos nos sentimos. Somos apenas mais um. Por acreditarmos que não temos jeito para nada ou, simplesmente, porque alguém nos disse que o que gostamos de fazer não dá dinheiro, juntamo-nos ao grupo. Alistamo-nos nessa massa humana que hipotecou os seus sonhos em detrimento duma vida “estável”. Criamos uma rede de segurança que não nos afasta apenas do chão, mas também do sucesso. Na minha opinião, somos bem-sucedidos quando conseguimos passar grande parte do nosso tempo entusiasmados e a fazer aquilo que nos dá prazer. Mas porque será que a grande maioria de nós insiste em sacudir os seus sonhos? Porque, tantas vezes, duvidamos do nosso talento? É possível estarmos em paz enquanto esbanjamos o nosso tempo a fazer coisas que não gostamos?
Por norma, temos tendência a negligenciar um dos sinónimos de “errar”. Agarramo-nos
demasiado ao “falhar” e ignoramos por completo o “tentar”. Afinal de contas, não é por
acaso que o método se chama “tentativa erro” e não “falha erro”. É crucial não ficarmos à porta do laboratório da vida. Experimentar, falhar, repetir – a única forma de adquirir
experiência. É assim que aprendemos e aperfeiçoamos. E isto aplica-se por completo às
nossas vocações. O diamante está lá, sempre esteve, mas precisa ser lapidado. Creio que só nos restam duas opções na vida. Aprisionarmo-nos numa rotina que irá acabar por nos matar antes do tempo ou entregarmo-nos por completo àquilo que nos apaixona.
Quando vivemos uma vida que não é nossa, já sabemos, à partida, que iremos sair derrotados. Até podemos vir a conquistar bens materiais, fama e prestígio, mas a sensação de alegria pura nunca iremos encontrar. Vamos ficando angustiados, stressados e ansiosos, e o nosso corpo encarregar-se-á de expressar essas emoções todas através de doenças. Por outro lado, quando nos rendemos às nossas paixões, estamos a habilitar-nos a ser felizes. Não é garantido, mas, pelo menos, estamos a pôr-nos a jeito. Mesmo que corra mal, é apaziguador sabermos que tentamos. Fazer tudo o que está ao nosso alcance deixa-nos de consciência tranquila. Para o nosso bem, temos de dar o benefício da dúvida a nós próprios.

É completamente inútil termos vergonha dos nossos talentos. Não interessa o que vão
pensar ou opinar. Se nascemos com habilidade para algo, não foi por acaso. É uma bênção que não podemos desrespeitar. É a vida a dizer-nos que é por ali, basta confiar. Pode doer e assustar, mas é a nossa única chance. Agarrá-la depende imenso de nós. Já chega de desculpas. Se foste feita para estar em palco, não te escondas atrás duma secretária. Se a tua paixão é o desporto, não vistas uma bata só porque te disseram que é mais seguro. Se queres passar o resto da tua vida a cozinhar, despe o fato e a gravata duma vez por todas.

Cada um de nós sabe por onde quer ir. Acredito que todos temos um talento preso algures entre o medo e a insegurança. Quando é que vais libertar o teu?

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