Não me estou a sentir bem.
E não, não estou a falar nem duma simples indisposição nem duma outra maleita qualquer. O que se passa, na verdade, é que já não me sinto como deve ser. Perdi o rasto de quem já fui e de quem ambicionava ser. Deixei de me sentir com o coração e desprendi-me da intuição. Viciei-me na lógica e estou agarrado ao racional. Não vivo como um, eu sou mesmo um autêntico robô! Segui receitas de pratos que não gostava e, mesmo não tendo todos os ingredientes necessários, confecionei este presente que de prenda tem tão pouco. Para quê? Isto nem é meu. Isto nem sou eu.
Sinto a minha falta.
Sonhava em ser rebelde. Queria ser alguém capaz de pôr de lado tudo aquilo que lhe fosse imposto contra a sua vontade. Se bem me lembro, viver segundo aquilo em que acreditava era o meu propósito. Parecia tão óbvio, tão “tem de ser assim”! Gostava mesmo de mim naquela altura. Cheio de tudo o que importa: sonhos, fé e atitude. No entanto, hoje vejo obediência cega no lugar da rebeldia consciente. Colho apatia desgastada onde pensava ter plantado entusiasmo genuíno. Transbordo restos de desinteresse apesar de ter-me enchido de incessante curiosidade. Desculpem-me, mas não consigo entender. Onde é que me perdi de mim?
Ao menos podia ter-me despedido como deve ser. Dizer um último adeus, acenar com um lenço branco ou qualquer outra coisa do género. Em vez disso, fugi na direcção oposta e já não fui a tempo. Fugi porque toda a gente foge e ainda não voltei porque são poucos aqueles que conseguem voltar.
Gostava mesmo de tornar a ver-me. Rever os meus sonhos e abraçar tudo o que ficou para trás. Desculpar-me pelo transtorno causado, sorrir e seguir-me sem hesitar.
desabafo:
tenho tantas saudades
minhas.