Robusto 

Da mesma maneira que não pedi para nascer, também não tenciono pedir para morrer. Somente peço a mim mesmo algo de relevante entre esses dois acontecimentos. Algo que valha a pena em que por vezes transformamos a nossa vida.

Não me sinto daqui. Nem d’além. Sinto-me um estrangeiro no mundo que me rodeia. Fugir? Nem pensar, quanto mais corro mais me perco. Vou tentar parar e sentir antes de atravessar o caminho. 

Precipito-me e ausento-me. Fui e não devia, sorri e nem queria. Apesar da cara lavada, fujo para o sujo. Sítios peganhentos colam-se a mim e incendeiam-me. Quando o fogo é de artifício, a chama nunca aquece. Se tudo é o que tem de ser, para quê insistir em esquecer? Já passou.

Quando não se é, então o que somos? Ninguém. Por isso, escolhi os princípios que me levam além mesmo que para isso me julguem ingénuo. Espaços cheios de gente vazia observam-me. Confundem simpatia com fragilidade. Abafam o amor-próprio e substituem-no por arrogância. Escondem o pragmatismo atrás do excesso de confiança. Assertividade nunca foi prepotência. Cruzam a calma com a liberdade e chamam-lhe passividade. O silêncio nunca se deveu à falta de palavras. A realidade pode ser cruel, eu é que não.

Dizem que levo a vida demasiado a sério. Normal, é a única que tenho. 

P.S.- Já que aqui estou, deixa-me ao menos tentar ser eu.

Ausente

Pára com isso.

Abranda. Vais ficar aí? Enquanto os ponteiros davam 60 passos, porque optaste por ficar a marcar passo? Não entendo. A vida só é mesmo assim caso não queiras chegar ao fim. Tantas corridas e tão poucas metas. Chega.

És acusado de homicídio dos teus tempos mortos e não percebes o porquê de estares no banco dos réus. Estranho. És sem saber, dizes sem sentir. O que fazes para além de respirar? Ausentaste-te por breves instantes, mas nunca mais voltaste. Onde estás? Eu sei que dói, mas por favor volta. Marcado pelo passado, foges do presente com pânico de chegar ao futuro. Respira. Viver é saber esperar sem nunca perder tempo. Encontra-o. Ele voa e tu insistes em não bater as asas. Absurdo. A resistência não passa de ausência de paciência. Corrida contra o tempo? Ele ganha sempre, tem mais do que tu. Vai.

De nada adianta atrasar a vida. Ela está aqui e agora. Agarra-a. Já não te vês há quanto tempo? Causa da morte: amnésia afectiva. Esqueceste-te de amar. Foi para isto que exististe? Encontra-te. Vai contigo, com calma, com tudo. Onde é que andas com o coração? Sentes o batimento, mas falta-lhe pulsação. Estás a tempo. Volta.

Desculpa a sinceridade, mas ao contrário da tua atitude, o teu coração não me é estranho.